O Memorial das Pessoas Encantadas, instalado na Fundição Progresso durante o CBA, compartilhou a história de 48 mestras e mestres inspiradoras que morreram, promovendo um resgate da memória de luta da agroecologia

Memorial dos Encantadod
Foto: Fernanda Favaro

Durante o 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), que aconteceu entre os dias 20 e 23 de novembro de 2023 no Rio de Janeiro (RJ), os participantes credenciados puderam conhecer o Memorial das Pessoas Encantadas.

No espaço de quietude, acolhimento e poesia instalado na Fundição Progresso, epicentro do CBA, foram dispostas 48 mudas de árvores, e em cada uma delas, foi anexado um cartão com foto e informações sobre cada pessoa homenageada.

Em 23 de novembro, último dia do CBA, os participantes do Congresso puderam coletar e levar as mudas das árvores para plantar em seus territórios em homenagem aos encantados.

“Essas árvores irão se reproduzir e suas sementes e frutos alimentarão um território mágico que irá inspirar a luta dos que estão e dos que virão”, diz Maurício Leonard, multiartista e professor no Departamento de Arquitetura da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), um dos propositores do espaço.

O significado das mudas de árvores

Memorial das pessas Encantadas 12º CBA Rio de Janeiro novembro 2023
Mudas ficaram dispostas no saguão de entrada do Teatro Arena, na Fundição Progresso (foto: Fernanda Favaro)

Para os povos africanos do tronco linguístico yorubá, foi através do pilar da criação (òpó-orun-oún-àiyé) que une o mundo transcendente ao imanente, que as entidades primordiais chegaram ao local onde deveriam proceder o início do processo de criação do espaço material. Esse pilar da criação é sempre representado por uma árvore.

A árvore representa, nas culturas de diversos povos originários, um símbolo de origem e conexão entre mundos, já que consegue mergulhar em profundezas através das raízes e alcançar os céus com a sua copa.

Sobre a lista dos encantados

Construída para compor um dos espaços do 12° Congresso Brasileiro de Agroecologia, a proposta da lista dos encantados é ser atualizada constantemente, podendo assim ser reutilizada em outros eventos.

Desde o fim do CBA, em novembro de 2023, dois nomes foram acrescentados: Antônio Bispo dos Santos e Maria de Fátima Muniz de Andrade. Atualmente, a lista conta com 50 nomes.

Mais informações sobre todos os encantados estão logo abaixo. Caso você queira imprimir as biografias dos encantados, é possível baixar o arquivo em pdf aqui. Sugerimos que a impressão seja feita em papel com gramatura 300g/m².

Conheça as mestras e mestres homenageados no Memorial das Pessoas Encantadas

Maria Bernadete Pacífico 

(Mãe Bernadete)
1951-2023
Quilombo Pitanga dos Palmares, RJ

Maria Bernadete Pacífico, mais conhecida como Mãe Bernadete foi uma ialorixá, ativista e líder quilombola brasileira. 

Era coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos e líder do Quilombo Pitanga, em Simões Filho. Também coordenava uma associação de cerca de 120 agricultores que produzem e vendem farinha para vatapá, além de frutas e verduras, como abacaxi, banana da terra, inhame e maracujá.

O Quilombo Pitanga dos Palmares — certificado em 2004, mas  ainda aguarda a conclusão do processo de titulação — tem cerca de 854 hectares, onde vivem 290 famílias.

Irmă Dorothy 

(Dorothy Mae Stang)
1931-2005
Natural de Dayton, Ohio nos Estados Unidos
Anapú, PARÁ

Irmã Dorothy Stang era uma missionária católica que veio para o Brasil na década de 70. 

Em Anapu – Pará, ela liderou o primeiro projeto de desenvolvimento sustentável da região, o PDS Esperança. Stang  lutava pela regularização da terra para famílias de trabalhadores rurais e combatia a violência das invasões ao projeto por grileiros, madeireiros e fazendeiros.

Em 12 de fevereiro de 2005, aos 73 anos de idade, a missionária Dorothy Mae Stang foi assassinada. 

“Não vou fugir nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade, sem devastar”.

Chico Mendes

(Francisco Alves Mendes Filho)
1944 – 1988
Xapuri, ACRE

Chico Mendes foi um líder sindicalista e ativista ambiental que se tornou conhecido por sua luta em defesa dos direitos dos seringueiros e da preservação da Amazônia. 

Nascido no Acre, ele trabalhava como seringueiro desde a infância e pode vivenciar de perto os impactos negativos do desmatamento da Amazônia.

Chico Mendes foi assassinado em sua casa por fazendeiros que se opunham à sua defesa da floresta e dos seringueiros. Sua morte causou comoção mundial e trouxe visibilidade para a causa ambiental e a importância da preservação da Amazônia.

Damiana Cavanha 

(Damiana Kaiowá)
1939 – 2023 
Nhandesy e Dourados, MATO GROSSO DO SUL 

Damiana foi uma liderança Kaiowá, considerada guerreira pela AtyGuasu. 

Lutou a vida inteira contra o Agronegócio na forma de Usina de Cana-de-Açucar que se instalou nas terras do seu Tekoha. Teve oito parentes, entre marido e filhos assassinados na BR163 por atropelamento sem socorro. 

Enfrentou despejos violentos, doenças e muito sofrimento. Morreu sem ver sua terra demarcada. As causas da morte ainda não foram elucidadas.

Padre Josimo 

(Josimo Morais Tavares)
1953 – 1986
Marabá, PARÁ

Josimo Morais Tavares foi coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Araguaia-Tocantins e era conhecido  como “padre negro de sandálias surradas”, ele se tornou um dos maiores mártires da luta pela terra no Brasil. 

Expressou sua religiosidade em defesa dos excluídos, enfrentou poderosos e vivia sob constantes ameaças. Foi assassinado em Imperatriz (MA), a mando de fazendeiros e empresários do campo. 

Sua inspiração está viva no coração de milhões que lutaram e lutam pela libertação dos pobres, pela distribuição de terra e contra o latifúndio.

Maria Margarida Alves

(Margarida Alves) 
1933-1983
Alagoa Grande, PARAÍBA

A luta de Margarida era uma luta em defesa dos Trabalhadores Rurais, pelo direito à carteira assinada, salário digno e direito à terra. Margarida tinha na essência a indignação pelas injustiças vividas pelos trabalhadores e trabalhadoras da região.

“É melhor morrer na luta do que morrer de fome!”

A “Marcha das Margaridas” é um  movimento social feminista que celebra pelas ruas o legado de sua luta, inspirando a todos a continuar ressitindo as violências que são submtidos homens e mulheres no campo.

Zé Maria do Tomé

(Zé Maria Tomé)
1966 – 2010
Chapada do Apodi, CEARÁ

A luta de Zé Maria começou por sua filha, Márcia, que com 9 anos, passou a apresentar uma infecção de pele que não se curava. Os médicos sugeriram procedimentos, mas não houve melhora. 

Várias pessoas da comunidade também estavam adoecendo e pouco antes uma piscina de abastecimento de água da região fora contaminada pela pulverização de agrotóxicos, causando a morte de diversos animais. Dessa luta nasce a lei Zé Maria do Tomé uma lei que proíbe pulverização aérea de agrotóxicos, única região brasileira onde essa prática é banida.

João Pedro Teixeira

1918-1962
Guarabira, PARAÍBA

João Pedro Teixeira, filho de um pequeno agricultor nascido em Pilãozinho. Seu desejo de luta começou desde criança, pois via seu pai constantemente se revoltando com as injustiças que os proprietários de terra faziam com ele e seus amigos. 

Fundou uma das maiores ligas camponesas do Nordeste no município de SAPÉ-PB, Comunidade Barra de Antas. Foi pego em uma emboscada e assassinado por latifundiários. 

A casa onde ele morou com a sua mulher Elizabeth Teixeira e seus sete filhos, atualmente é um memorial de referência da luta camponesa.

Tymbektodem Arara

(Tymbek)
1984-2023
Aldeia Iriri, Terra indígena de Cachoeira Seca, Altamira, PARÁ

Tymbek era o linguista do Povo Arara. O líder indígena discursou durante a sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em 2023; durante a viagem recebeu áudios com ameaças de fazendeiros locais. 

Tymbek, envolveu-se em uma situação ainda pouco esclarecida ao voltar para a TI, afogando-se no rio local e morrendo em seguida.

A terra em que vivem os Arara é alvo de ação predatória para a obtenção de madeira. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram desmatados 697 km² de floresta na TI Cachoeira Seca entre 2007 e 2022.

Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips 

1980-2022, Recife, PERNAMBUCO
1964-2022, Merseyside, INGLATERRA

Foram assassinados enquanto faziam uma expedição de barco pelo Vale do Javari, terra indígena ameaçada por garimpeiros, pescadores ilegais, madeireiros e traficantes de drogas. O objetivo era fazer reuniões em cinco aldeias sobre a proteção no território. 

Dom pretendia fazer entrevistas com lideranças indígenas e ribeirinhos para um novo livro, chamado “Como Salvar a Amazônia?”, enquanto Bruno colhia materiais e sistematizava estudos sobre as ameaças vividas pelas comunidades locais.

Isac Tembé

1996 – 2021
Capitão Poço, Pará

O professor Isac Tembé, de apenas 24 anos, foi morto depois de um ataque sem justificativa desferido por policiais militares. Isac havia saído com um grupo de indígenas para caçar e não retornou à sua casa, na Terra Indígena Alto Rio Guama, em Paragominas, no nordeste do Pará. 

Jheilson Batista Pecla Cordeiro e Normande Mariano Barbosa

1999-2022
1976-2022
Machadinho, RORAIMA

Os dois trabalhadores foram assassinados ao construir uma cerca em uma empreitada e foram confundidos por pistoleiros contratados para matar o ocupante da terra.

O local,(região dos Soldados da Borracha, uma área situada entre Cujubim e o Distrito de Calama, de Porto Velho) nos últimos anos, é palco de intenso processo de grilagem, desmatamento e queimadas, acompanhadas de numerosas ocorrências de violência e de conflitos pela disputa da terra, decorrente da tolerância institucional da ocupação desordenada da mesma. Normande deixa esposa e um filho de 16 anos, já o jovem Jheilson deixa companheira e enteada. 

Padre Nelito 

1962 – 2021
Governador Valadares – MINAS GERAIS

Padre Nelito Nonato Dornelas  lutava pela construção de uma sociedade com Ecologia Integral, com justiça agrária, social, ambiental e com respeito à diversidade cultural e religiosa. 

Nelito colocou em prática a Opção pelos Pobres, cultivava uma espiritualidade libertadora, (macro ecumênica), transformadora, ecológica e profundamente bíblica. 

Formador, professor, assessor dos movimentos sociais, entre outras e na luta pela causa dos pobres. Foi assessor da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da  CNBB

Maria José Rodrigues e José do Carmo Corrêa Júnior

1945-2021
1983-2021
Comunidade Boa Esperança – MARANHÃO

Mãe e filhos trabalhavam como Quebradores de Coco, na Comunidade Boa Esperança, no município de Penalva (MA). Os dois faziam a coleta de coco babaçu, quando foram atingidos pela palmeira derrubada por maquinário pesado, a mando de um fazendeiro da região envolvido em conflitos agrários. 

O extrativismo do coco babaçu é uma das maiores forças produtivas do Maranhão, atrás somente da agropecuária e da agricultura. A atividade de coleta e quebra é feita de forma tradicional e envolve hoje cerca de 300 mil mulheres no estado.

Reginaldo Alves Barros e Maria da Luz Benício de Sousa

? – 2021
Povoado Vilela/Gleba Campina – MARANHÃO

O casal foi baleado  durante uma emboscada, no Povoado Vilela/Gleba Campina, município de Junco do Maranhão. Maria da Luz Benício era ativa em movimentos sociais em defesa do direito à terra e era suplente da direção do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) da região.

Há cerca de 17 anos, mais de 66 famílias ocupam a área de 2.250 hectares de terra na Gleba Campina, onde desenvolvem atividades da agricultura familiar, especialmente plantio de milho, feijão, mandioca, arroz, criação de animais.

Em 2010, organizados por meio de associação, as famílias pleitearam  junto ao Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma) a regularização fundiária da área e, a partir da solicitação, denunciam perseguição por parte de um fazendeiro originário do sul do país.

Carlos Rodrigues Brandão 

(Brandão) 
1940- 2023
Rio de Janeiro

Carlos Henrique Brandão foi professor pesquisador no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, desenvolvendo seus estudos na área de cultura e educação popular, questões ambientais e antropologia rural. Escreveu artigos, livros, capítulos de livros, livros de contos e de poesia, de educação e antropologia. 

Brandão, como era comumente chamado, formou estudantes na teoria e na prática, pois para ele o encontro com a realidade é parte fundamental da formação. Era um militante ativista, entre o ensinar e o aprender. Sua contribuição teórica foi reconhecida e premiada, constituindo um importante referencial teórico da cultura popular brasileira.

Hélio Martins da Silva

1962 – 2021
Nova Era, MINAS GERAIS

Iniciou sua militância na Oposição Sindical Ferramenta – Chapa 03. Foi diretor da CUT Vale do Aço, direção do PT. Agente voluntário da CPT.  

Apoiou a luta pela terra na região do Vale do Rio Doce, lutou contra as barragens, em defesa das famílias atingidas. Lutou também contra a mineração e o monocultivo do eucalipto. Sempre presente na luta do povo, teve uma saúde frágil. Faleceu de COVID aos 59 anos.

Ana Maria Primavesi

1920 – 2020
Sankt Georgen ob Judenburg, ÁUSTRIA

Ana Maria Primavesi, agrônoma e escritora, chegou ao Brasil na década de 1950. Aqui, foi professora universitária e desenvolveu muitas pesquisas que foram base para a compreensão dos solos das regiões tropicais, tornando assim uma das grandes referências na discussão sobre o manejo ecológico do solo, a partir da compreensão do solo como um organismo vivo. 

Além da dedicação a vida e produção acadêmica, Primavesi dialogava diretamente com os agricultores e agricultoras em comunicação popular e acessível. É considerada uma das maiores referências da Agroecologia no Brasil.

Eduardo Sevilla Gúzman 

1945 – 2023
Córdoba – ESPANHA

Eduardo Sevilla Guzmán foi uma semente que nasceu numa terra boa, cresceu e se transformou numa árvore frondosa e produtiva que gerou muitas outras sementes que atualmente trabalham em diferentes lugares do mundo. As milhares de sementes espalhadas pelo mundo estão afetivamente levando o legado de Eduardo avante! Autor de uma vastíssima obra composta por artigos, publicações, livros, sobre temáticas como: campesinato, agroecologia.

Desenvolvimento sustentável, Movimentos Sociais da Espanha e particularmente da América Latina, região onde construiu uma ação sistemática de formação com militantes de movimentos sociais camponeses, universidades e instituições públicas de pesquisa e extensão rural. Eduardo é um encantado da Agroecologia, semente das boas que se transformou numa referência indispensável para compreender a perspectiva sociológica e política da Agroecologia.

Francisco Roberto Caporal

1952 – 2021
Porto Alegre, Brasília, Recife, PERNAMBUCO

Caporal, como era conhecido, nasceu em Cruz Alta/RS. Formou-se em Agronomia pela UFSM, onde fez o mestrado em extensão rural. Fez seu doutorado na Universidade de Córdoba-Espanha(1998). Teve uma atuação relevante na elaboração da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER), como quadro do Ministério do Desenvolvimento Agrário (2003 a 2010), onde atuou como diretor substituto do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural e coordenador geral de Ater e Educação (DATER/Secretaria de Agricultura Familiar).

Foi Professor Adjunto da Universidade Federal Rural de Pernambuco, junto ao Departamento de Educação, onde coordenou a Área IV, de Extensão Rural. São várias as contribuições de Caporal para o avanço da Agroecologia no Brasil e no mundo, publicações, artigos científicos, livros, divulgações via internet, aulas, orientações de alunos, conferências e palestras, destaca-se a contribuição para a construção dos conceitos, princípios e práticas da Extensão Rural Agroecológica, sendo reconhecidamente um dos autores mais citados no Brasil em relação  a esse tema.

Ana Paula Pegorer de Siqueira

1969 – 2020
Uberaba, Brasília e Teresópolis

Profissional dedicada, competente e que compartilhava conhecimentos com agricultoras e agricultores usando exemplos práticos e dona de pedagogia amorosa e cativante, Ana Paula contribuiu decisivamente com a expansão e o fortalecimento da agroecologia em diversos municípios do Rio de Janeiro.

Ao longo dos 28 anos de experiência profissional atuou nas áreas de Agricultura Orgânica, Agricultura Familiar, Agricultura Natural e Agroecologia, com ênfase em capacitações e assistência técnica utilizando metodologias participativas e trabalhando com conceitos do Manejo Agroecológico do Solo, da Fitossanidade e dos Agroecossistemas. 

Participou da implantação de Sistemas Participativos de Garantia Orgânica e foi Coordenadora Técnica da ABIO, Associação de Agricultores Biológicos do Rio de Janeiro.

Dejair Lopes de Almeida 

1941 – 2019
Bom Jardim, RIO DE JANEIRO

Dejair gostaria de ser lembrado como uma pessoa que sempre tinha algo de bom a oferecer a alguém, fosse um ensinamento, uma mensagem de sabedoria ou uma palavra amiga capaz de resgatar a  paz e a harmonia. 

Como engenheiro agrônomo, PhD em solos, Dejair acreditava que uma agricultura justa, sustentável e livre de venenos poderia realmente salvar o mundo!…resgatando a beleza das paisagens degradas; protegendo a saúde das pessoas e a saúde do meio ambiente; levando populações de volta para o campo, onde estas podem ter saúde, alimento e trabalho dignos! 

Dejair dedicou sua vida profissional ao desenvolvimento da agricultura orgânica no Brasil, como forma de resgatar a dignidade do homem do campo e o direto das pessoas à alimentação sem veneno!

Raul de Lucena Duarte Ribeiro

1937 – 2018 
Seropédica, RIO DE JANEIRO

Um carioca nato, boa praça, botafoguense de coração, pai de três filhas, profundo conhecedor da história da Universidade Rural, tinha muita habilidade com as palavras, sendo um orador de grande naturalidade, excelente escritor e revisor minucioso de textos. Ao longo de seus 42 anos de docência formou milhares de engenheiros agrônomos, dispersos por todo o país, instituições e empresas, atuando no ensino de fitopatologia, olericultura, agroecologia e agricultura orgânica.

Portador de profundo conhecimento agronômico, tinha uma forma simples de socializar seus conhecimentos, sobretudo quando dialogava com agricultores. Um bom amigo e muito querido em toda a UFRRJ desde o mais simples trabalhador rural a reitores. 

Aldecy Viturino Barros e Ana Paula Costa Silva

1979-2023
1994-2023
Princesa Isabel, PARAÍBA

Trabalhadores rurais vinculados ao Movimento Sem Terra (MST)  foram assassinados no Sítio Rancho Dantas, zona rural de Princesa Isabel, no Sertão da Paraíba. Aldecy era o coordenador do acampamento, que está sediado no local desde de 2008 e abriga mais de 20 famílias.

Marisa Letícia Casa Lula da Silva 

1950 – 2017
São Bernardo do Campo, SÃO PAULO

Marisa Letícia Casa Lula da Silva militou durante toda a sua vida pela liberdade e pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Iniciou sua luta política junto com o marido, Luiz Inácio Lula da Silva. 

Foi ela quem liderou a Passeata das Mulheres, em protesto pela liberdade dos sindicalistas. Participou da vida política de Lula, mas teve também sua militância própria, inclusive durante a ditadura militar. A ex-primeira dama foi pioneira ao reivindicar, com outras esposas de metalúrgicos, que houvesse mulheres nas chapas dos sindicatos do ABC.

Neusa Paviato Botelho Lima

1961 – 2022 
SÃO PAULO

Trabalhadora costureira, mulher de luta, mãe de quatro filhos, ingressou no  Movimento dos Trabalhadores Rurais – MST nos anos 90, a partir da ocupação do Horto Boa Sorte, em Restinga, SP. 

De lá para cá foram anos de dedicação incansável na luta por Reforma Agrária e pela construção do Socialismo. Atuou em todas as frentes do MST, com destaque para o Setor de Produção, onde ajudou a formar inúmeras associações e cooperativas. Luta era seu sobrenome.

Elmo da Silva Amador  

1943 – 2010 
Santa Catarina, Rio de janeiro

Elmo Amador foi um geógrafo, professor, pesquisador e ambientalista brasileiro. Morou no Rio de Janeiro desde 1950. Um dos seus principais objetos de pesquisa foi a Baía de Guanabara, com mais de 50 trabalhos publicados e mais de uma centena de comunicações técnicas. Como resultado de suas pesquisas e militância política, foram obtidas importantes vitórias para a Baía de Guanabara, entre as quais: Criação da APA de Guapimirim; inclusão da Baía de Guanabara na Constituição Estadual como Área de Preservação Permanente e de Relevante Interesse Ecológico; redução dos aterros previstos no Projeto Rio; Ação Popular que impediu o loteamento do espelho d’água da Lagoa de Itaipu; declaração da Baía de Guanabara como Patrimônio da Humanidade pelo Fórum Global, durante a Conferência Rio-92 e inclusão do assoreamento como problema ambiental da baía.

André Bittencourt Amador 

1973 – 2023
Rio de Janeiro

Formado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com mestrado na mesma área pela Universidade Federal Fluminense (UFF), André foi servidor do Ibama, atuando no Parque Nacional da Tijuca, onde fundou em 2003 o programa “Voluntariado do Parque”. 

Graças ao seu pontapé o parque conta hoje com uma área de mais de 150.000m² de área plantada e recuperada, com retirada de espécies de invasoras e plantio de vegetação nativa.

Paulo Yoshio Kageyama

1945 – 2016 
Santo Anastácio, SÃO PAULO

Graduado em Engenharia Agronômica , foi diretor de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente na gestão da Ministra Marina Silva (2003-2007). Era professor titular da USP; representante titular do Ministério do Desenvolvimento Agrário na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio.

Tinha experiência na área de Genética e Conservação, com ênfase em Genética de Espécies Arbóreas, atuando principalmente com Conservação de Ecossistemas Tropicais, Restauração de Áreas Degradadas, Sementes Florestais, Variabilidade e Estrutura Genética, assim como Agrobiodiversidade e Agricultura Familiar. Ao longo de sua trajetória, aprendeu e difundiu os princípios da agroecologia e da agricultura orgânica.

Francisco Julião Arruda de Paula  

1915 – 1999 
Pernambuco

Elmo Amador foi um geógrafo, professor, pesquisador e ambientalista brasileiro. Morou no Rio de Janeiro desde 1950. Um dos seus principais objetos de pesquisa foi a Baía de Guanabara, com mais de 50 trabalhos publicados e mais de uma centena de comunicações técnicas. Como resultado de suas pesquisas e militância política, foram obtidas importantes vitórias para a Baía de Guanabara, entre as quais: Criação da APA de Guapimirim; inclusão da Baía de Guanabara na Constituição Estadual como Área de Preservação Permanente e de Relevante Interesse Ecológico; redução dos aterros previstos no Projeto Rio; Ação Popular que impediu o loteamento do espelho d’água da Lagoa de Itaipu; declaração da Baía de Guanabara como Patrimônio da Humanidade pelo Fórum Global, durante a Conferência Rio-92 e inclusão do assoreamento como problema ambiental da baía.

Maria Stella de Azevedo Santos

(Mãe Stella de Oxóssi)
1925 – 2018
Bahia

Mãe Stella de Oxóssi foi uma importante líder religiosa e escritora brasileira, reconhecida por seu papel como ialorixá no Candomblé. 

Iniciada aos 14 anos de idade para Oxóssi, guiada no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, casa que chegou a liderar por mais de quatro décadas.Com muito trabalho que ela conseguiu que o terreiro fosse tombado pelo IPHAN, em 1999. Estudiosa e grande divulgadora das crenças religiosas africanas, a ialorixá recebeu o título de doutor honoris causa pela UFBA em 2005. Quatro anos depois, a UNEB concedeu a mesma honraria. Ela dedicou sua vida à preservação e valorização da cultura afro-brasileira, lutando contra o preconceito sofrido pela religião e contribuindo para a promoção da diversidade religiosa e cultural no país.

Ronaldo Raimundo da Silva 

1973 – 2023 
Assentamento Sepé Tiaraju, Serra Azul.

Militante do MST,  Ronaldo foi um militante ativo na luta a favor da agroecologia, na criação de grupos de agrofloresteiros e na preservação do meio ambiente, além de grande articulador da juventude do campo. Participou ativamente da luta pela terra e se forjou como um militante para todas as horas e tarefas. Ajudou em muitos trabalhos de base da reforma agrária. Participou de inúmeras ocupações de terra, ajudando a trazer o direito à terra, trabalho e moradia, para centenas de famílias. 

Era entusiasta da arte como mobilizadora social: ajudou a organizar todos encontros nacionais de violeiros e violeiras, o Encontro com o Saci e a Luta Popular, e vários encontros de cantadores e cantadoras. Mobilizou grupos de jovens do campo nas discussões de teatro popular.

Fernando Luiz 

1965 – 2017
Belo Horizonte, MINAS GERAIS

Foi um benzedor e raizeiro da cidade de Belo Horizonte. Junto com a esposa Tantinha trabalhou com segurança alimentar, alimentação natural e plantas medicinais através do Ervanario São Francisco. Era referência nas tematicas da agroecologia, agricultura urbana, plantas medicinais e benzeção, participando de organizações como AMAU, Rede de Intercambio e aue. Manteve um quintal com 150 espécies de plantas medicinais no Alto Vera Cruz e mudou-se para um sítio em Sabará no fim de sua vida. Hoje Tantinha segue com o trabalho do Ervanário com plantas medicinais. Fernando era portador de insuficiencia renal, passou por transplantes e fez hemodialise por muitos anos de sua vida.

Florentina Pereira dos Santos

1938 – 2023
Povoado Moinho na Chapada dos Veadeiros, Alto Paraíso de Goiás

Florentina Pereira dos Santos, popularmente conhecida como Dona Flor, teve 18 filhos e adotou outros 28. Realizou o parto de 310 crianças. Além de parteira e raizeira, foi garimpeira, tropeira, quitandeira, tecelã e agente de saúde. 

Dona Flor viveu pela preservação da rica biodiversidade do cerrado. Trabalhou na peleja do trabalho na roça, no feitio de remédios caseiros, de açúcar mascavo, rapadura, farinha, sabão de tingui, entre tantas outras coisas, além de sempre estar ensinando a quem à ela procurou para aprender. Aos 84 anos, Dona Flor sonhava em realizar a casa de saberes populares do Povoado do Moinho.

Adelina Gomes

1916 – 1984 
Campos dos Goytacazes, RIO DE JANEIRO

Mulher camponesa, concluiu o ensino primário. Com atitude “negativa e agressiva” foi internada aos 21 anos. Aos 30 anos, começou a frequentar o ateliê de pintura da Seção de Terapêutica Ocupacional supervisionado pela Dra. Nise da Silveira. 

No ateliê encontrou sua expressão e concentração, tendo produzido cerca de 17.500 obras. Dedicou-se ao trabalho em barro, à confecção de flores de papel, à pintura, e a trabalhos de crochê. Sua produção plástica, e as importantes pesquisas daí desenvolvidas pela Dra. Nise ao longo de muitos anos tornaram-se objeto de exposições, filmes, documentários e publicações. 

Cícero Guedes  

1970 – 2013
Alagoas

Natural do interior de Alagoas, ainda criança, Cícero foi submetido ao trabalho análogo à escravidão em monoculturas de cana de açúcar. Migrou para o sudeste para tentar a vida com esposa e filhos. 

Chegou ao Rio de Janeiro sem alfabetização formal, quando teve contato com a ocupação da reforma agrária Zumbi dos Palmares, nas terras da falida Usina São João, cuja desapropriação e emissão de posse aconteceu em 1997. 

Tornou-se uma das principais lideranças políticas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no norte fluminense e contribuiu de forma pioneira no desenvolvimento de pesquisas e técnicas agroecológicas. Foi brutalmente executado com tiros na cabeça e nas costas, numa estrada rural perto do Assentamento Oziel Alves, em Campos dos Goytacazes.

Dona Chiquita 

1922 – 2020
Passagem de Mariana, MINAS GERAIS

Dona Chiquita abençoou centenas de pessoas, de forma voluntária e solidária, sem nada em troca pedir. Deixou um legado para as pessoas que honram, defendem e trabalham os ofícios e saberes de cura. Nosso muito obrigado por sua missão sagrada!

Quem já esteve sob os seus cuidados deve lembrar-se do cheiro do manjericão e da arruda,  dos gatos correndo pela sala, da fumaça do fogão a lenha, das imagens santas e as ervas de cura, muitas e variadas, que ela manipulava com sabedoria ancestral. Quem não se lembra do som das orações, bem baixinho, como um chiado que saía dos lábios entreabertos daquela poderosa mulher….

Inês Fernandes da silva

(Dona Inês)
1923 – 2009 
Paraopeba, MINAS GERAIS

Dona Inês foi uma benzedeira do cerrado mineiro, conhecedora dos saberes das ervas e das benzeções. Exerceu com muita humildade  seu ofício de curandeira, produzindo garrafadas, doces medicinais e curas diversas herdadas dos antigos.

Dona Inês era reconhecida também pelo Quentão que fazia para as barraquinhas das festas religiosas, pelo doce da jalapa e pelo açúcar de raízes que continha muitas ervas, raízes e folhas especiais e cheirosas.

Dona Inês fazia curas milagrosas, como do Quebranto, o Curá-de-Cobra, Espinhela Caída e também costurava pequenos patuás com ervas e orações. Deixou sua filha Nilza, como herdeira de muitos conhecimentos sobre plantas e medicinas do cerrado e também o precioso saber da feitura do açúcar de raízes.

Zé da Terreira  

1945 – 2023 
Porto Alegre

Zé da Terreira, ator, músico, compositor, educador, provocador e agitador cultural, foi um ícone da cultura popular em Porto Alegre. 

Presença forte e sensível em qualquer atividade que se pusesse a berrar ao mundo sobre as injustiças cometidas pelo sistema capitalista. Parceiro dos movimentos ecologistas, ambientalistas, agroecológicos. Suas ferramentas eram o teatro, a música, expressão corporal e a sua grande sabedoria de vida, ampliada ao longo dos 78 anos de sua existência!

Carolina Maria de Jesus 

1914 – 1977
Sacramento, MINAS GERAIS

Carolina Maria de Jesus, depois de peregrinar com a mãe em busca de trabalho pelas cidades do interior paulista, chegou à capital do estado de São Paulo em 1947 e se instalou na favela do Canindé, de onde saía diariamente para trabalhar como catadora de papel. 

Negra, pobre e precariamente alfabetizada, ganhou projeção nacional e internacional com a publicação de Quarto de despejo, que reunia relatos sobre o cotidiano na favela (1960). Em vida, lançou ainda Casa de alvenaria (1961), Pedaços da fome (1963) e Provérbios (1963).

Morreu aos 62 anos em decorrência de uma crise de asma, deixando uma vasta obra composta pelos mais diversos gêneros literários, parte da qual ainda permanece inédita.

Neli Stelet 

? – 2018  
Rio de Janeiro

Assentada no Assentamento Dandara dos Palmares, em Campos dos Goytacazes, na região norte fluminense do Rio de Janeiro. 

Foi uma importante guerreira da luta pela Reforma Agrária e construtora do MST, além de se preocupar sempre nos cuidados com a militância e na difusão da Saúde Popular como instrumento de luta da classe trabalhadora.

Neli faleceu de problemas no coração e resistia aos problemas que a doença trazia.

Romualdo Rosário da Costa

(Mestre Môa do Katendê)
1954 – 2018  
Salvador, Bahia 

Mestre Môa do Katendê, como era conhecido, foi um compositor, percussionista, artesão, educador e mestre de capoeira Angola. Começou a praticar capoeira aos oito anos no terreiro de sua tia, o Ilê Axé Omin Bain. Foi campeão do Festival da Canção do bloco Ilê Aiyê em 1977. 

Promoveu o afoxé, fundando em 1978 o Badauê, e em 1995 o Amigos de Katendê. Defendia um processo de “reafricanização” da juventude baiana e do carnaval, seguindo as propostas de Antonio Risério. 

Foi assassinado com doze facadas pelas costas após discussão sobre o primeiro turno das eleições gerais de 2018.

Jaider Esbell 

1979 – 2021 
Normandia, RORAIMA 

Artista, escritor e produtor cultural indígena da etnia Makuxi da Amazônia. Trabalhou e se especializou como eletricista na linha de transmissão da Eletrobras, realizando paralelamente ações de educação ambiental e atividades socioculturais. Concluiu o curso de Geografia aos 28 anos.

Ao longo de sua vida, Esbell escreveu e desenhou, lançando no ano de 2012 o seu primeiro livro, Terreiro de Makunaima – Mitos, lendas e estórias em vivências. 

Em 2013, concentrou-se na pintura, realizando exposições coletivas e viagens para o exterior. Foi vencedor do Prêmio Pipa ONLINE 2016 e destaque da 34ª Bienal de Arte de São Paulo, em 2021.

Maria de Jesus Ferreira Bringelo

(Dona Dijé)
1948 – 2018
Maranhão

Dona Dijé: mulher negra, quilombola, liderança comunitária, defensora de direitos. Era guardiã da floresta, dos babaçuais e das sementes que ela fazia questão de ser árvore. Estandarte do acesso à terra e direito à vida digna, foi uma das fundadoras do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, formado pelas extrativistas do Maranhão, Tocantins, Pará e Piauí. Lutou pela regulamentação do Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais. Com discurso suave e firme, formado nas experiências duras que viveu desde a infância, ela construiu uma liderança acolhedora e forte. 

“Queremos nosso território livre para nascer, viver, germinar, parir e morrer”

“Há muitos anos a gente já fazia a agroecologia. Só que não tinha ainda esse nome. Mas aí a gente vai descobrindo que isso veio do nosso povo, que já fazia a agroecologia. Preservação da vida, da terra, preservação da água. A agroecologia deu voz ao nosso conhecimento de povo tradicional.”

Aline Maria dos Santos Silva   

1979 – 2021

Camponesa, mãe, advogada popular, Aline Maria foi uma ferrenha defensora da luta das mulheres e no combate à violência de gênero, contribuindo especialmente na Rede de combate à violência doméstica do MST em SP. 

Aline Maria ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná em parceria com o Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária (Pronera) e graduou-se em 2019. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Direito pela mesma universidade, teve sua vida interrompida precocemente pela Covid-19.

Marielle Francisco da Silva  

1979 – 2018 
Rio de Janeiro

Conhecida como Marielle Franco, foi uma mulher negra cria da favela da Maré. Socióloga, mestra em Administração Pública e ativista brasileira, defendeu o feminismo, os direitos humanos, e criticou a intervenção federal no RJ e a Polícia Militar. 

Denunciou vários casos de abuso de autoridade por parte de policiais contra moradores de comunidades carentes. Foi eleita Vereadora da Câmara do RJ, com 46.502 votos. Foi também Presidente da Comissão da Mulher da Câmara. Foi assassinada em um atentado ao carro onde estava. 13 Tiros atingiram o veículo, matando também o motorista Anderson Pedro Gomes. 

Benê Ricardo

1943-2018
Ouro Fino, Minas Gerais

Em 1981, aos 38 anos, Benê Ricardo foi a primeira mulher brasileira a receber um diploma de chef de cozinha no país. 

Mineira de Ouro Fino, ficou órfã aos 12 anos e virou empregada doméstica nessa idade. Trabalhando na casa de descendentes europeus, se especializou na culinária alemã. Mais tarde ganhou um concurso de receitas da Revista Cláudia e seu prêmio foi trabalhar na cozinha experimental do periódico, inspirando muitas futuras cozinheiras e chefs pretas. 

Defensora da biodiversidade e dos insumos tipicamente brasileiros, Benê Ricardo sempre esteve na vanguarda criativa da culinária.

Adilson Paschoal  

1941 – 2023
Casa Branca, SÃO PAULO

Paschoal era parceiro intelectual de Ana Maria Primavesi, engenheira agrônoma pioneira nos estudos e na aplicação da agroecologia no país. Defendeu o respeito aos ciclos da natureza e aos trabalhadores, os dois conquistaram seguidores fieis, que espalham e concretizam o legado da agroecologia. 

Foi Adilson quem inventou, em um artigo de 1977 e depois em um livro de 1979 uma palavra que se tornaria clássica, o vocábulo “agrotóxico”. Contrapondo-se a nomes usados até então e que em sua visão tinham o objetivo de ocultar a verdadeira natureza tóxica desses produtos, como “pesticida”, “praguicida” ou “defensivo agrícola”, Adilson defende que termo proposto por ele é o mais rigoroso cientificamente.

Antônio Bispo dos Santos

(Nêgo Bispo)
1959 – 2023
Comunidade quilombola Saco Curtume,São João do Piauí, PIAUÍ

Considerado um dos maiores intelectuais do Brasil, que desenvolveu o conceito de contracolonização, Nêgo Bispo foi o 1º alfabetizado de sua família, após uma decisão comunitária de enviar o menino quilombola para a escola. Estudou até o nono ano e, com o que aprendeu, além de traduzir as burocracias do mundo dos brancos, lia e escrevia cartas, ajudava na contabilidade dos comércios, na organização das festas. É autor de dois livros – A Terra Dá, a Terra Quer (Ubu, 2023) e Colonização, Quilombo: Modos e Significações (UnB, 2015).

Maria de Fátima Muniz de Andrade Pataxó Hã Hã Hãe

(Majé Nega Pataxó Hã Hã Hãe)
? – 2024
Potiraguá, BAHIA

Conhecida como Nega Pataxó, a Majé (mulher líder espiritual) do povo indígena Pataxó Hã Hã Hãe, foi assassinada a tiros e tombou com seu maracá em mãos durante a retomada do território tradicional Caramuru-Catarina Paraguassu, no Sudoeste da Bahia. Foi a 31ª pessoa indígena assassinada na região, historicamente marcada por violentos conflitos desencadeados por fazendeiros armados, contrários à demarcação do território indígena. Nega Pataxó foi a expressão viva da luta em defesa do direito humano fundamental de permanência de seu povo em seu território de origem. Era liderança articulada nas lutas coletivas dos povos indígenas e figura central da construção e fortalecimento da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo.

Memorial das Pessoas Encantadas
No encerramento do 12° CBA, participantes puderam levar as mudas das pessoas homenageadas para plantar em seus territórios (Foto: Tina Diores)

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