Memorial dos Encantados no CBA irá homenagear mestras e mestres que se despediram e vítimas da violência no campo

Parte do 12º CBA. o Memorial das Pessoas Encantadas vai compartilhar a história de vida de pessoas inspiradoras que morreram recentemente, promovendo um momento de resgate da memória de luta da agroecologia

Memorial das Pessoas Encantadas 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia

A organização do 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) abre um chamado para que as comunidades e coletivos de todo o Brasil compartilhem histórias locais de pessoas que morreram em decorrência de conflitos no campo e outras violências. O espaço também será dedicado à memória de mestras e mestres da agroecologia, da educação popular e da construção de novos sentidos e projetos da sociedade.

Essas histórias serão compartilhadas no Memorial das Pessoas Encantadas, um espaço de quietude, acolhimento e poesia na Fundição Progresso, o epicentro do CBA. No Memorial serão dispostas diferentes mudas de árvores, e em cada uma delas, será anexado um cartão com foto e informações básicas sobre cada pessoa homenageada.

Em 23 de novembro, último dia do CBA, os participantes do Congresso poderão coletar e levar as mudas das árvores para plantar em seus territórios em homenagem aos encantados. 

“Nosso desejo é que as mudas sejam transplantadas para outros territórios e tornem-se uma referência viva dos encantados. Essas árvores irão se reproduzir, suas sementes e frutos, alimentarão um território mágico que irá inspirar a luta dos que estão e dos que virão”, diz Maurício Leonard, multiartista e professor no Departamento de Arquitetura da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), um dos propositores do espaço.

Por que as árvores fazem parte do Memorial das Pessoas Encantadas?

Para os povos africanos do tronco linguístico yorubá, foi através do pilar da criação (òpó-orun-oún-àiyé) que une o mundo transcendente ao imanente, que as entidades primordiais chegaram ao local onde deveriam proceder o início do processo de criação do espaço material. Esse pilar da criação é sempre representado por uma árvore.

A árvore representa, nas culturas de diversos povos originários, um símbolo de origem e conexão entre mundos, já que consegue mergulhar em profundezas através das raízes e alcançar os céus com a sua copa.

Neste processo de mobilização para o 12º CBA, a homenagem às pessoas encantadas se dará em um um memorial vivo, simbolizando, através de mudas, a história e a memória dessas pessoas.

Reúna-se em seu território para registrar e enviar as histórias de luta dos encantados

Sugerimos que o grupo, território ou sujeito coletivo identifique mobilizadores locais que possam guiar essa tarefa.

A metodologia sugerida envolve a construção de narrativas de histórias de vida de nossos entes queridos.

Para articular e resgatar as memórias das pessoas encantadas, nós iremos rememorar as suas histórias através da metodologia do “Círculo de Cultura”, adaptada ao contexto de rememoração de histórias sensíveis.

O Círculo de Cultura deverá ser conduzido por um grupo ou comissão, que cuidará de preparar o ambiente e o material de papelaria. A atividade pode ser realizada ao ar livre, debaixo de uma árvore, em cadeiras, esteiras ou almofadas. O importante é que seja um ambiente acolhedor, aconchegante e confortável para que as pessoas se sintam bem.

Para ajudar as/os participantes com o acionamento das memórias afetivas, sugerimos que monte varais com fotos, objetos e/ou outras lembranças das pessoas encantadas. Harmonize o ambiente com elementos da cultura local, como instrumentos musicais, plantas e flores. Certifique-se também de providenciar água e alimentação saudável aos presentes.

Como coletar as informações sobre os homenageados: passo a passo

O grupo deverá se sentar em roda. Cada pessoa da roda deverá ser convidada a pegar uma tarjeta e escrever o nome de uma pessoa que terá sua memória eternizada no Memorial das Pessoas Encantadas.

Em seguida, cada pessoa que escreveu na tarjeta deverá responder às seguintes perguntas:

– Por que iremos homenagear essa pessoa?
– Por que essa muda/árvore nutre a sua memória?
– O que eu aprendi convivendo com essa pessoa, lutando ao lado dela ou a amando?
– Qual o legado que ela deixa para a nossa luta?

A metodologia também deverá ser composta por uma equipe de relatoria, coletando e sistematizando as histórias.

Depois de registrar as histórias e os dados das pessoas (como nome e sobrenome, localização, data de nascimento e morte), as pessoas mobilizadoras podem preencher este formulário.

Outras pessoas que queiram homenagear a memória de seus encantados também poderão preencher o formulário, sem necessariamente passar pela etapa do Circuito de Cultura.

A coleta de informações ocorrerá até o dia 31 de outubro.

Aos nossos encantados, nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de lutas. Afinal, estamos aqui em consequência direta da luta de gerações antepassadas, com a constante missão de manter a história e a memória de vida e luta sempre presentes!

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